Os mais novos costumam desenvolver sintomas leves da Covid-19; Tire-dúvidas sobre sintomas, complicações da infecção, vacinação para outras doenças e uso de máscaras.
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As crianças e os
adolescentes não estão imunes ao novo coronavírus, mas não estão entre os mais
atingidos. Quando infectados, costumam desenvolver uma forma mais leve da
Covid-19 e têm menos complicações do que os adultos. Porém, em alguns casos,
podem precisar de cuidados em Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
1. As crianças são imunes ao coronavírus?
Não. Ao contrário do que afirmou
o prefeito do Rio de Janeiro, as crianças também são afetadas.
Entre todas as hospitalizações por coronavírus no Brasil, ao menos 0,6% são
bebês com menos de um ano. Crianças de 1 a 5 anos representam 0,5% dos casos
mais graves e a faixa de 6 a 19 anos, 1%.
A gravidade da
doença é que parece ser menor nos mais pequenos do que em outras faixas. Uma
pesquisa divulgada pela revista médica "Lancet" analisou que menos de
0,1% das crianças infectadas evoluíram para casos mais graves.
Foram avaliadas
7.780 pacientes com Covid-19 em 26 países (EUA, China e países europeus).
Embora 59,1% das crianças e adolescentes analisados tivessem apresentado febre
e 55,9%, tosse, 19,3% deles eram assintomáticos. Apenas 0,14% desenvolveram
a síndrome inflamatória
multissistêmica, a complicação da Covid-19 que atinge as
crianças. Sete morreram.
Pacientes com
problemas de imunidade, doenças respiratórias e cardíacas compuseram o maior
grupo das crianças afetadas e 5,6% tiveram outras infecções associadas.
2. Quais são os sintomas apresentados pelas crianças?
De forma geral, as
crianças costumam ser assintomáticas ou apresentar apenas sintomas leves como
um quadro gripal, com tosse, coriza e
febre (que acontece em cerca de metade dos casos).
Porém, as crianças
podem ter sintomas um pouco mais graves como desconforto respiratório e falta
de ar.
“Outra manifestação
são os sintomas gastrointestinais, que precedem o quadro respiratório. Parte
das crianças tem vômito, diarreia e dor abdominal”, afirma o coordenador do
Comitê de Infectologia Pediátrica da Sociedade Brasileira de Infectologia,
Marcelo Otsuka.
3. Quais são os grupos de risco entre os pequenos?
O pediatra Victor
Nudelman, da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, afirma
que apenas 8% das crianças precisam de internação e apenas metade delas chega a
necessitar de uma UTI.
Crianças têm maior
riscos para quadros mais graves se tiver doenças pré-existentes como: câncer, algum problema hematológico, anemia falciforme, diabetes,
obesidade, cardiopatias congênitas, doença renal crônica, asma, com algum tipo
de imunodeficiência.
Aquelas que possuem
alguma cromossomopatia, como Síndrome
de Down, também têm predisposição para infecções graves. “Muitas vezes as
crianças com Síndrome de Down podem ter um déficit imunológico ou doenças
cardíacas, o que complica o quadro”, afirma o infectologista Marcelo Otsuka.
Com relação à asma,
Nudelman esclarece que pacientes que têm a asma
bem controlada, que não têm crises com frequência, passam a ter os mesmos riscos de crianças sem nenhuma comorbidade.
Os especialistas
ainda não sabem explicar qual criança vai necessariamente desenvolver as formas
mais graves da Covid-19. Porém, eles já observaram que pacientes que estão com
outros vírus, como o da influenza, ou infeções nas vias respiratórias provocadas
pela bactéria Mycoplasma têm mais
tendência de ir para UTI.
4. Quais são os sintomas da síndrome inflamatória aguda grave?
Ainda não se sabe
exatamente a causa, mas algumas crianças infectadas pelo Sars-Cov-2 desenvolvem
sintomas de uma síndrome inflamatória multissistêmica, que pode exigir
tratamentos intensivos e até levar a morte. Há casos registrados nos EUA,
França e Reino Unido.
A infecção pelo
Sars-Cov-2 desencadeia uma resposta imunológica do corpo com febre persistente (por mais de 3 dias), vômito, diarreia, lesões de
pele, conjuntivite e sintomas cardiovasculares.
Os pais devem ficar
alerta porque os sintomas podem aparecer de 3 a 5
semanas após o contato com o novo coronavírus mesmo que a criança não tenha
apresentando sintomas da Covid-19.
“[A síndrome] Às
vezes, é posterior a uma infeção sem sintoma. Um primeiro diagnóstico não faz
pelo PCR. O paciente apresenta PCR negativo, mas tem sorologia positiva, o que
mostra que teve contato pregresso com o vírus”, explica Marcelo Otsuka.
Alguns sintomas são
muito semelhantes aos da síndrome de Kawasaki,
doença que atinge normalmente crianças de até 3 anos. Nos casos relacionados ao
coronavírus, a média de idade é superior: gira em torno de 8 e 9 anos.
A inflamação nas
artérias é semelhante à provocada pela síndrome de Kawasaki, que costuma afetar
artérias grandes e médias. No caso da inflamação provocada após o contato com o
coronavírus, ela atinge mais os músculos do que as artérias do coração, de acordo
com o pediatra Victor Nudelman.
A síndrome
inflamatória aguda grave também pode apresentar sintomas da síndrome do choque tóxico, doença rara que pode gerar
insuficiência renal aguda, ou da síndrome
de ativação macrofágica, que atinge fígado e a medula óssea.
Um estudo britânico
analisou pacientes com síndrome inflamatória multissistêmica do Great Ormond
Street Hospital for Children, em Londres (Inglaterra). Dos 27 pacientes, quatro
apresentaram sintomas neurológicos, como dores de cabeça, fraqueza muscular e
reflexos reduzidos. Com o passar do tempo, os quatro tiveram melhora das
condições neurológicas e dois se curaram completamente até o fim do estudo.
Não existe um exame
único que indique a síndrome inflamatória multissistêmica, mas uma vez
diagnosticada ela é tratada com injeções de imunoglobolina e de corticoide.
5. Criança transmite Covid-19?
Sim. Apesar de, em geral, serem assintomáticas e não desenvolverem as
formas graves da doença, crianças transmitem o vírus.
“Indivíduos
assintomáticos muito provavelmente transmitem menos, mas transmitem. Se criança
vai ficar com os avós ou ter contato com pessoas do grupo de risco, como
obesos, hipertensos, é preciso ficar atento”, reforça Marcelo Otsuka.
6. É preciso manter a vacinação em dia?
Os pais devem
manter todas as vacinas dos filhos, como a da gripe e a do sarampo, em dia.
“Nossa cobertura vacinal caiu pela metade e essa deficiência nós vamos ver o
reflexo logo, logo”, afirma Marcelo Otsuka.
O médico alerta que
infecções associadas à Covid-19 podem contribuir para o agravamento do quadro
clínico do paciente.
Com a reabertura e
uma futura volta às aulas outros agentes infecciosos vão voltar a circular como
sarampo, pneumococos e gripe. “Na hora em que retomarem as atividades isso vai
explodir”, diz o médico.
7. Crianças devem usar máscaras?
A Organização
Mundial da Saúde (OMS) não recomenda máscaras em crianças
menores de 2 anos, porque elas não conseguem usar adequadamente. Cabe aos pais
avaliarem caso a caso e orientarem o uso correto desta proteção.
Um dos aspectos a
se levar em consideração é que crianças menores costumam ter mais coriza e
excesso de baba. Isso pode fazer com que a máscara fique úmida muito rápido,
prejudicando a sua eficácia. Além disso, os pequenos têm dificuldade em
controlar a necessidade de colocar a mão no rosto.
“Já vi criança com menos de dois anos que utilizava direitinho e outras,
mais velhas, que não sabiam. Toda hora manipulavam” – Marcelo Otsuka, pediatra.
As máscaras devem
ter tamanho adaptado para as crianças de maneira que cubram o nariz e o queixo,
além ficarem bem ajustadas às bochechas.
8. Quando devo levar ao médico?
Se os pais
identificarem os sintomas da Covid-19, é aconselhável buscar orientação médica,
mas não precisa necessariamente levar a criança ao hospital. Se estiver
disposta e não tiver falta de ar, o médico pode orientar via teleconsulta,
mesmo.
O médico vai poder indicar o momento de
ir para o hospital para checar, por exemplo, a oxigenação sanguínea, um
parâmetro muito importante. A medição é feita com um oxímetro – equipamento
colocado na ponta do dedo do paciente (não precisa tirar sangue).
9. Cuidado com o lado
psicológico
O pediatra Victor
Nudelman alerta que a quarentena prolongada tem provocado reflexos
psicossomáticos principalmente nas crianças maiores e nos adolescentes.
“Eles estão tendo que lidar com uma
situação de perda. Ninguém está dando uma luz no fim túnel muito clara. Eles se
perguntam como a gente vai viver até aparecer a vacina”, diz o médico.
Nem sempre eles têm filtro para a
avalanche de informações que recebem e criam uma imagem de que são muito
frágeis, ainda que os pacientes desta faixa etária se recuperem muito bem.
“Quando recebem o diagnóstico de
Covid-19, alguns se desesperam", observa o médico. "Logo vão sentir
falta de ar e que coração está batendo muito rápido. Muitos sintomas são mais
psicossomáticos do que provocados pela própria doença."
10. O que se deve prestar
atenção na discussão sobre volta às aulas?
No momento em que
se discute a volta às aulas, certos cuidados devem ser levados em consideração.
Convivemos ainda em um contexto de subnotificação elevada por falta de testagem
em massa e não temos a real dimensão desta epidemia.
As situações devem
ser analisadas caso a caso, lembrando sempre que crianças com qualquer sintoma
não deve sair de casa.
·
Criança tem alguma
comorbidade?
Nudelman diz que
alguns pais têm relatado que escolas ensaiam a reabertura de salas de aula com
35% dos alunos.
“Eu oriento que, em
um primeiro momento, os pais evitem mandar as crianças que tenham alguma
comorbidade, como obesidade, problemas pulmonares crônicos ou algum episódio de
inflamação grave ao longo da vida”.
·
Criança tem contato com
grupo de risco?
Outro ponto
importante é saber com quais grupos de risco essa criança vai ter contato.
“É diferente a
criança que vai para escola e volta para casa de outra que vai ter contato com
obesos, hipertensos, ou que vai ficar com os avós”, observa Otsuka ao citar
casos em que ele não recomenda a retomada das aulas presenciais.
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Quais são os cuidados que
escola deve ter?
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As escolas devem tomar medidas para que as crianças mantenham distância.
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Na Europa, as instituições de ensino estabeleceram horários diferentes
para entrada, saída e intervalo para evitarem aglomerações. O controle de
temperatura também costuma ser feito na entrada da escola em alguns países,
como China.
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“Como a escola vai conseguir manter as crianças distantes? Como vai ser
o intervalo? E na hora da alimentação? As merendeiras estão sendo orientadas
sobre quais os cuidados que devem ter? A escola vai conseguir manter todas as
crianças de máscara?”, orienta Otsuka aos pais questionar.
·
As escolas também devem manter ambientes arejados, reforçar as regras de
higiene do imóvel, além de fornecer álcool em gel e estimular as crianças a
lavarem as mãos com frequência.
·
“O ideal é que a escola
faça toda a programação de cuidados, como o distanciamento, álcool gel e, se
possível, fazer testagem para saber qual é a prevalência da doença nesse grupo
após um tempo de convívio”, afirma Nudelman.
Por Letícia Macedo, G1
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