O Grande Debate desta segunda-feira (6) abordou os
últimos fatos envolvendo a Operação
Lava Jato e o significado da operação no âmbito político
brasileiro.
O Tribunal de Contas da União (TCU) informou que
vai investigar se a força-tarefa usou equipamentos ilegais de grampo – focados,
inclusive, no presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado Federal,
Davi Alcolumbre (DEM-AP). Além disso, a Ordem do Advogados do Brasil (OAB)
também vai formalizar pedido de investigação contra os procuradores de
Curitiba.
Outro elemento foi a entrevista do procurador
da República Deltan Dallagnol, que afirmou, à CNN, que o
trabalho da força-tarefa em Curitiba "passou a interessar ao governo e aos
seus aliados" para enfraquecer a operação de olho nas eleições gerais de
2022.
"Eu não vejo uma mudança do nosso trabalho nos
últimos seis anos. Com o desembarque do ex-ministro Sergio Moro da parte da
Justiça, passou a interessar ao governo e aos seus aliados a desconstrução do
ex-ministro Sergio Moro e da Lava Jato, de que ele é símbolo, pelo receio de
que ele venha eventualmente a concorrer em 2022", afirmou o
procurador.
O Grande Debate
Mediador da edição matinal do quadro da CNN, Rafael
Colombo trouxe o assunto para a pauta e levantou para os advogados Thiago
Anastácio e Gisele Soares: a Lava
Jato passou a ser um movimento político?
Gisele diz acreditar que não. "A Operação Lava Jato não é um movimento
político, mas um conjunto de mais de 70 operações para o combate à
corrupção", analisou. "Não é um movimento político, mas uma atitude
contra maus políticos e corruptos".
"Qual é a diferença da Lava Jato para as
outras operações? Ela ganhou a atenção dos brasileiros justamente pelos seus
números alarmantes. Até hoje, constatou mais de R$ 14 bilhões em desvios. É uma
operação muito bem-sucedida", acrescentou ela.
Já Anastácio citou "poeiras da hipocrisia
e ilegalidade" e defendeu que "R$ 14 bilhões são recuperáveis,
mas quando se cometem ilegalidades, a recuperação da Justiça é muito mais lenta
e tardia".
Ele ainda afirmou que a única pergunta que sobrou é
se Sergio Moro, então juiz federal responsável pelos processos da Lava Jato em
primeira instância, tinha interesse político na condenação do ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Afirmarmos que a Lava Jato não é um ato
político da história do Brasil é uma bobagem. Porque o direito nada mais é do
uma instrumentalização da política, criando delimitações e recortes analíticos
para que seja analisado no futuro. Então, vamos parar de bobagem",
completou. "A discussão é Lula e Moro".
Gisele rebateu que "não há interesses de juízes em perseguir ou em
condenar". "Discordo veementemente do Thiago com relação a toda essa
importância dada ao ex-presidente Lula. Ele é um condenado dentro do universo
de 165 condenados até agora pela Operação Lava Jato, que fez uma grande limpeza
de maus políticos no Brasil", defendeu. "E espero que continuemos a
fazer essa grande limpeza porque maus políticos não são de interesse nenhum
para o país. Lula é apenas um deles".
Anastácio questionou a colega: "Você realmente acha que o Lula não tinha
importância para a Lava Jato? Você sempre se irrita com o Lula e é muito
interessante porque é o próprio Ministério Público Federal que quer investigar
a força-tarefa. Moro, em uma entrevista ontem, falou sobre o ringue que eram as
audiências com Lula. Ele chamou de ringue. Eu faço a pergunta: se você está em
um processo e, daqui a três anos, você descobre que eu trocava mensagens de
WhatsApp com o juiz para combinar sobre testemunhas, você não recorre?".
Gisele avaliou que "a defesa tenta mudar o passado". "Esses
argumentos de suspeição e parcialidade já vinham sendo levantados pela defesa
do ex-presidente Lula durante o julgamento", argumentou.
Reabertura em São Paulo
A reabertura de bares, restaurantes e salões de
beleza a partir desta segunda-feira (6), em São Paulo, também foi abordada
pelos debatedores. Eles discutiram se os protocolos serão obedecidos pelos
comerciantes e também pela população.
O protocolo
com bares e restaurantes é um documento de nove páginas, que
estabelece regras para desinfecção, testagem de funcionários, medidas de
distanciamento e sobre ocupação máxima limitada.
Gisele disse que "é hora de retomar", porque "São Paulo clama
pela abertura e pela retomada das atividades". Ela disse esperar que
"haja o engajamento das pessoas", que, para ela, devem se
responsabilizar pela própria saúde.
"É muito importante que seja feita uma
comunicação adequada das autoridades e ampla divulgação de todas as regras e
protocolos de higiene, e que as pessoas se responsabilizem pela manutenção da
própria saúde e dos seus pares", defendeu.
Diante desse cenário que responsabilidades
divididas, Anastácio destacou as cenas de
lotação e descumprimento de medidas de proteção que foram
vistas no primeiro dia de reabertura no Rio de Janeiro.
"A questão não é o que eu gostaria que fosse,
mas que esse é o grande problema. Poderíamos já estar em outro momento da
história, mas estamos, infelizmente, na era das trevas. Estamos isolados em
casa, mas as pessoas estão aglomeradas na calçada e sem máscara. O ideal é
esse? Não", concluiu.
Considerações finais
Em suas considerações finais, Gisele voltou a
defender que cada pessoa é responsável pela preservação da própria saúde.
"Vemos imagens de pequenas aglomerações, no Brasil, que não diferem em
nada de aglomerações em outros países dos mundo que reabriram suas
economias", iniciou.
"As pessoas sentem essa necessidade, é do ser
humano buscar a proximidade dos seus entes queridos, amigos e pessoas de quem
ficamos distanciados por tão longo período. E de quem é essa responsabilidade?
Há uma corresponsabilidade. Não é mais possível que responsabilizemos o estado,
exclusivamente, pela contaminação e pelo aumento no número de casos e
mortes", acrescentou.
E concluiu pedindo a "retomada da vida":
"É uma responsabilidade de todos. É importante que o cidadão consiga
compreender que ele faz a diferença, que cada um de nós precisa compreender a
legislação, o risco do contágio e adotar as medidas para que possamos continuar
nos aglomerando de uma forma segura. Se eu vou para a rua, tenho que ir com
essa consciência".
Anastácio concordou com Gisele sobre a responsabilidade individual, mas destacou o
impacto do "incentivo da liderança política do país para as aglomerações e
a não gravidade da doença".
"Nisso nós temos um problema real, porque a
informação e o direcionamento passados à população fazem com que ela volte a
não ter o senso de responsabilidade", avaliou. "E não estamos falando
de pessoas pobres, mas do Leblon – um dos lugares mais caros do planeta. Então,
o nosso grande problema é a ausência de consciência cívica", encerrou.
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