DNA sintético é usado para conseguir gerar anticorpos antes de infecção real pelos coronavírus. Pesquisadores publicaram experiência na 'Nature Communications'.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2020/Q/V/y6K0m0Tg6A0YuBi6AY7A/3.jpg)
Pesquisadores
apostam em uma vacina desenhada com DNA sintético para obter a imunização
contra o Sars
CoV-2, de acordo com estudo publicado na
"Nature Communications" Os cientistas usaram como
bases vacinas idealizadas contra o Sars e o Mers – dois vírus da mesma família
que causaram epidemias em 2002, na China, e em 2012, no Oriente Médio,
respectivamente.
A
família coronavírus foi assim batizada devido a uma estrutura em forma de
coroa. O espinho - "spike" - é uma proteína responsável por fazer uma
ligação com o receptor ACE2 nas células do corpo humano. Quando isso acontece,
o coronavírus consegue gerar a infecção e se multiplicar.
Com
isso, o sistema imunológico reconhece a estrutura viral com um corpo estranho e
um mecanismo é acionado, que gera a produção de anticorpos e outros
componentes. Na maioria das vezes, o próprio sistema da pessoa infectada
consegue combater o Sars CoV-2. As vacinas tentam "treinar" o nosso
organismo para evitar com que o vírus entre nas células antes da chegada de um
vírus real. E caso entre, seja capaz de proteger contra evolução da doença.
"Aproximadamente 20% das pessoas têm sinais da
doença Covid-19. O problema é que esse número representa muita gente porque o
vírus se espalha muito rápido. A única forma de barrar isso é uma vacina ou um
tratamento específico", disse Gustavo Cabral, imunologista que atua na
criação de uma vacina no Brasil.
Os projetos de Sars e
Mers
A
vacina INO-4700 (feita inicialmente contra o Mers) está em testes clínicos, mas
apresentou resultados positivos. Camundongos e porquinhos-da-índia receberam
uma dose e produziram anticorpos capazes de neutralizar o vírus, assim como
outros componentes do sistema imunológico, as células T (linfócitos T). A
eficiência contra o Sars CoV-2 em comparação com o Mers é de 96%, e a imunidade
contra o vírus é mantida por 60 semanas.
As
pesquisas com a INO-4700 estão na fase 2 na Coreia do Sul. Um dos trabalhos com
essa tecnologia foi publicado em 2015 com resultados em macacos. Em 2019, foram
divulgados os dados da fase 1 com humanos (veja as fases de produção de uma vacina abaixo). Uma etapa
maior da fase 2 está prevista para começar no Oriente Médio.
"Após
a imunização de camundongos e porquinhos-da-índia com INO-4800, medimos as
células T específicas para os vírus, anticorpos funcionais que neutralizam a
infecção por Sars CoV-2 e bloqueiam a ligação da proteína ACE2 (...). Este
conjunto de dados preliminares identifica a INO-4800 como uma potencial
candidata à vacina contra a Covid-19", disseram os autores.
ACE2 e DNA sintético
Os
receptores ACE2 são encontrados em células do coração, dos rins e em outros
órgãos. Pesquisas científicas recentes, inclusive no Brasil, os apontam como a
"porta de entrada" do coronavírus nas células no corpo humano.
A
vacina usa a sequência genética expressa pela proteína "Spike" em um
DNA sintético criado em laboratório. O vírus não é inserido no corpo humano,
apenas uma parte dele, que não apresenta risco. E com isso, produz a
"Spike" dentro do organismo e faz com que o sistema imunológico
identifique o "corpo estranho" e desenvolva uma proteção real antes
da chegada do coronavírus.
Estágios de produção de
vacinas
Para
chegar a uma vacina efetiva, os pesquisadores precisam percorrer diversas
etapas. Entre elas está a pesquisa básica – que é o levantamento do tipo de
vacina que pode ser feita. Depois, passam para os testes pré-clínicos, que
podem ser in vitro ou em animais, para demonstrar a segurança do produto; e
depois para os ensaios clínicos, que podem se desdobrar em outras quatro fases:
·
Fase 1: feita
em seres humanos, para verificar a segurança da vacina nestes organismos
· Fase 2: onde
se estabelece qual a resposta imunológica do organismo (imunogenicidade)
· Fase 3: última
fase de estudo, para obter o registro sanitário
·
Fase 4: distribuição
para a população
Vacina de Oxford
Com
a previsão otimista de ficar pronta ainda em 2020, a vacina desenvolvida pela
Universidade de Oxford, no Reino Unido, também é uma esperança no combate à
Covid-19.
Ela
ofereceu proteção em um estudo
pequeno com seis macacos, resultado que levou ao início de testes em
humanos no final de abril, de acordo com informações dos
cientistas americanos e britânicos.
Em
humanos, os testes
têm apenas 50% de chance de sucesso. Adrian Hill, diretor do
Jenner Institute de Oxford, que se associou à farmacêutica AstraZeneca para
desenvolver a vacina, disse que os resultados de um próximo estudo, envolvendo
mais de 10 mil voluntários, podem não garantir que a imunização seja eficaz e
pede cautela.
A
universidade disse que instituições parceiras de todo o Reino Unido começaram a
recrutar até 10.260 adultos e crianças para ver quão bem o sistema imunológico
humano reage à vacina e quão segura ela é.
"A
velocidade com que esta nova vacina avançou para testes clínicos de fase
adiantada é um testemunho da pesquisa científica pioneira de Oxford",
disse Mene Pangalos, executivo da AstraZeneca.
Nenhum comentário:
Postar um comentário