(...) tende piedade, Senhor, de todas as mulheres
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade. (Desespero da piedade, Vinicius de Moraes)
Que ninguém mais merece tanto amor e amizade
Que ninguém mais deseja tanto poesia e sinceridade
Que ninguém mais precisa tanto de alegria e serenidade. (Desespero da piedade, Vinicius de Moraes)
A propósito do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste 8
de março, vale a pena destacar uma excelente notícia na área da ciência. Em
fevereiro deste ano, o projeto Open Box da Ciência identificou 250
pesquisadoras mais influentes em diversas áreas de conhecimento, numa forma de
dar maior visibilidade aos trabalhos dessas mulheres.
Escolhi essa excelente notícia para ratificar a importância e
relevância que a mulher vem conquistando em diversos espaços, à proporção que,
pouco a pouco, vão vencendo uma série de barreiras que por muitos anos
impediram esse reconhecimento. Elas já são maioria no país, de acordo com os
números fornecidos pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua
(PNAD-C) 2017, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Somos
hoje no Brasil 48,4% de homens e 51,6% de mulheres. A despeito de serem maioria
e das conquistas alcançadas, reconheço que ainda resta um longo caminho a ser
percorrido rumo à sonhada igualdade de gênero, onde haja equivalência de
oportunidades e direitos.
Mas hoje é dia de celebrar todas as mulheres, primeiro pelo dom da
maternidade que confere à mulher o sinônimo de amor. São corajosas,
inteligentes, realizadoras, e, nos versos de Vinícius, são seres que merecem
dádivas especiais.
Como todos nós estamos cercados por mulheres, sejam mães,
irmãs, filhas, netas e amigas, entendo de grande relevância celebrar o que
essas mulheres reais representam, cada qual com seu imenso valor, não só
humano, mas também afetivo. Por serem pessoas que fazem a diferença em nossas
vidas – para melhor – pensei neste tema como um modo de homenageá-las com este
artigo.
Uso a expressão “mulheres reais” porque são as que, como
milhões de outras, estão na vida cotidiana, dando conta de tantas atividades e
que, neste mister, tornam a nossa vida mais plena, mais feliz e realizada.
Celebro este dia porque reconheço a bênção de ser um homem de uma geração que
aprendeu a reconhecer que caminhar ao lado das mulheres nos dá não só a
inteireza de nós mesmos, mas também contribui de forma inestimável para a vida,
porque elas agregam, alimentam e ensinam, com sua verve feminina criativa; com
sua expertise afetiva, filosófica e também técnica, a lidar tantas vezes com
problemas complexos.
Muito antes de nossa geração, mulheres corajosas tiveram que
enfrentar um mundo hostil e preconceituoso contra a simples emancipação como
direito inerente à condição humana, que lhes era, entretanto, negado por
princípios que só empobreciam nossas sociedades. Mas a ousadia daquelas
mulheres criou um mundo diversificado e esperançoso; deu lugar e voz à mulher e
então nossas filhas podem almejar voos altos porque sua liberdade pode enfim
ser vivida e experienciada nas mais diversas situações. As expectativas para
uma menina hoje é de que ela seja aquilo que seus dons e talentos ditarem.
Aquilo que sua vocação mandar, o que seu coração ditar, ao contrário do passado
ou de tempos em que à mulher não era concedida a própria voz para seus
questionamentos.
A escritora Adélia Prado, em sua “Licença poética”,
parafraseando o poeta Carlos Drummond de Andrade, cunhou em poesia um pouco do
ser mulher: “Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou:
vai carregar bandeira. Cargo muito pesado pra mulher, esta espécie ainda
envergonhada. (...), mas o que sinto escrevo. Cumpro a sina. Inauguro
linhagens, fundo reinos — dor não é amargura. (...) Mulher é desdobrável. Eu
sou.” Diz também Clarice Lispector, em “A hora da Estrela”: “O destino de uma
mulher é ser mulher”. Ser várias, sem
perder a singularidade; ser forte, sem perder a delicadeza – eis o desafio.
A todas as mulheres – e aqui incluo minha amada mãe (que já
partiu desta existência), esposa, filha, nora, irmãs, primas, tias, sobrinhas,
netas, amigas, colegas e em especial minhas confreiras dos mais diversos
sodalícios que tenho a honra de integrar – meu reconhecimento hoje e minha
gratidão diária por expandirem meu horizonte e tornarem meus dias mais
significativos.
Natalino
Salgado Filho
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